Páscoa

segunda semana


Para ti, o que significa acreditar que Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Dus, vivo no meio de nós?

 | Evangelho segundo João, 20, 19-31
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

| Meu Senhor e meu Deus
Tomé está ausente. Jesus manifesta-se aos discípulos, «na tarde daquele dia, o primeiro da semana». Entretanto, quando Tomé regressa à comunidade, os outros dizem-lhe: «Vimos o Senhor». Este «ver» significa a experiência da presença de Jesus Cristo ressuscitado. Afinal, Jesus não é uma recordação do passado. Está vivo. E torna-se presente nos meios dos seus amigos. Tomé escuta-os com cepticismo. Como podem dizer que viram Jesus vivo, se ele morreu crucificado? Talvez seja outra pessoa. Tomé não aceita o testemunho dos seus amigos. Precisa de ser ele a comprovar o que lhe acabam de anunciar. O acontecimento é tão extraordinário que Tomé precisa de o comprovar pessoalmente. Este discípulo, que resiste a acreditar, vai ser o nosso guia no percurso que temos de fazer para termos fé em Jesus Cristo ressuscitado. Tomé representa todos aqueles e aquelas que — como nós — não fizeram parte do primeiro grupo dos discípulos. Nós nem sequer vimos o rosto de Jesus Cristo, nem escutamos as suas palavras, não vimos os seus gestos, não sentimos os seus abraços. Mas seremos (mais) felizes se acreditarmos que Jesus Cristo está vivo! «Oito dias depois», de novo no primeiro dia da semana, Jesus torna-se presente no meio dos discípulos. E dirige-se a Tomé. Não o quer deixar na dúvida. «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos». A ressurreição não anula a condição humana de Jesus Cristo. Não é uma passagem para uma condição superior. A ressurreição leva à plenitude a condição humana. Mas Tomé já não quer comprovar. Não precisa de o fazer. Já não tem necessidade de provas. A presença de Jesus é suficiente para despertar a fé de Tomé. E diz: «Meu Senhor e meu Deus!». Eis o mais profundo acto de fé, pronunciado em todos os evangelhos. A mensagem central deste relato é clara: a experiência pessoal, realizada no seio da comunidade, é fundamental para reconhecer Jesus Cristo, para fortalecer a fé em Jesus Cristo ressuscitado e vivo para sempre, no meio de nós. Todos precisamos de fazer este itinerário: passar do conhecimento teórico sobre Jesus para a experiência pessoal do encontro com ele. Esta mudança será sempre difícil, como o foi com os primeiros discípulos. Mas, sem esta mudança, não entraremos na dinâmica da ressurreição. Dizer que Jesus Cristo está vivo não terá qualquer sentido se eu não deixar que ele vive em mim. Hoje, esta Boa Notícia tem de incarnar na vida de cada homem e de cada mulher, neste tempo e neste lugar onde vivemos. Não temos de nos assustar ao sentir que existem dúvidas e interrogações, na nossa vida. As dúvidas, vividas de forma sadia, salvam-nos de uma fé superficial. As dúvidas ajudam a não nos contentarmos com repetir fórmulas, sem acreditar com confiança e amor. As dúvidas estimulam-nos a ir até ao final na nossa confiança em Deus humanizado em Jesus Cristo. Com Jesus Cristo tudo é possível: libertar-se do medo; recuperar a alegria da fé; abrir as portas; e pôr em marcha a evangelização. Os discípulos sentem o seu alento criador. Tudo começa de novo. «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Impulsionados pelo seu Espírito, continuarão a colaborar no mesmo projecto salvador que o Pai entregou a Jesus. Esta é a nossa missão: A Igreja anuncia a Palavra de Deus ao mundo.

| Alimentar-se da Palavra
O evangelho, após a confissão de fé de Tomé, convida o leitor — cada um de nós — a acreditar. Para ti, o que significa acreditar que Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus, vivo no meio de nós?


Páscoa: primeira semana

Como vais ser testemunha da ressurreição de Jesus?

| Evangelho segundo Marcos 16, 1-8
Depois de passar o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamar Jesus. E no primeiro dia da semana, partindo muito cedo, chegaram ao sepulcro ao nascer do sol. Diziam umas às outras: «Quem nos irá revolver a pedra da entrada do sepulcro?». Mas, olhando, viram que a pedra já fora revolvida; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Mas ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui. Vede o lugar onde O tinham depositado. Agora ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse».

| Ressuscitou: não está aqui
Jesus Cristo ressuscitou. Aleluia! Aleluia! A luz nova do Círio Pascal também chega ao nosso coração e nos queima de alegria. Ela ilumina o nosso rosto, para olharmos de uma forma nova tudo o que somos e tudo o que fazemos. Os nossos projectos e os nossos desejos, angústias e esperanças, toda a nossa vida é iluminada pela presença viva de Cristo. Na vida humana faz-se presente a vida de Deus. Em Jesus Cristo Deus humanizou-se. E infundiu em nós a fonte da vida. A terceira etapa do programa pastoral interroga-nos sobre a nossa missão: Qual é a nossa missão? «Eis a fundamental missão da Igreja da qual todas as outras missões eclesiais derivam: anunciar a Palavra de Deus ao mundo. [...] ‘É a própria Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós somos apenas servidores. Por isso, é necessário descobrir cada vez mais a urgência e a beleza de anunciar a Palavra para a vinda do Reino de Deus, que o próprio Cristo pregou. [...]  Todos nos damos conta de quão necessário é que a luz de Cristo ilumine cada âmbito da humanidade: a família, a escola, a cultura, o trabalho, o tempo livre e os outros sectores da vida social’ [...]» (Programa Pastoral). Temos de ser testemunhas da Ressurreição. E, por isso, onde há desencanto, temos de levar a esperança. Onde há tristeza, levar alegria. Onde há medo, levar fortaleza. Onde há egoísmo, levar solidariedade. Onde há solidão, levar companhia e ternura. Onde há dúvida, levar fé e confiança. Temos de ser pessoas e comunidades abertas e acolhedoras, capazes de contagiar com a nossa alegria de viver e de amar. E seremos profetas, homens e mulheres arautos da nova evangelização. É esta vida nova que nos faz ser aquilo que somos: pessoas novas, renovadas pela acção maravilhosa de Deus; pessoas libertas de todas as escravidões; pessoas abertas ao futuro com esperança, pois Deus espera-nos sempre com amor. Alimentados pela Palavra de Deus, somos enviados em missão: «Agora ide dizer aos seus discípulos». Eis a nossa missão: levar esta Boa Notícia a todas as pessoas. Sê uma Boa Notícia! Também foste escolhido para ser testemunha da Páscoa de Jesus.

| Alimentar-se da Palavra
Ao ler ou escutar os textos que narram a ressurreição de Jesus, alegra-te! Também foste escolhido para ser testemunha da Páscoa de Jesus. Como vais ser testemunha da Ressurreição de Jesus?

Semana Santa

Como te vais preparar para viver a Semana Santa?

| Evangelho segundo Marcos 14, 1 — 15, 47
Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos e os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição para Lhe darem a morte. Mas diziam: «Durante a festa, não, para que não haja algum tumulto entre o povo». Jesus encontrava-Se em Betânia, em casa de Simão o Leproso, e, estando à mesa, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro com perfume de nardo puro de alto preço. Partiu o vaso de alabastro  e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Alguns indignaram-se e diziam entre si: «Para que foi esse desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de duzentos denários e dar o dinheiro aos pobres». E censuravam a mulher com aspereza. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque estais a importuná-la? Ela fez uma boa acção para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem; mas a Mim, nem sempre Me tereis. Ela fez o que estava ao seu alcance: ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro, dir-se-á também em sua memória o que ela fez». Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Quando o ouviram, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?». Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’. Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze. Enquanto estavam à mesa e comiam, Jesus disse: «Em verdade vos digo: Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me». Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro: «Serei eu?». Jesus respondeu-lhes: «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato. O Filho do homem vai partir, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído! Teria sido melhor para esse homem não ter nascido». Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus». Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras. Disse-lhes Jesus: «Todos vós Me abandonareis, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’. Mas depois de ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia». Disse-Lhe Pedro: «Embora todos Te abandonem, eu não». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje, esta mesma noite, antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás». Mas Pedro continuava a insistir: «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei». E todos afirmaram o mesmo. Entretanto, chegaram a uma propriedade chamada Getsémani e Jesus disse aos seus discípulos: «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar». Tomou consigo Pedro, Tiago e João e começou a sentir pavor e angústia. Disse-lhes então: «A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se fosse possível, se afastasse d’Ele aquela hora. Jesus dizia: «Abá, Pai, tudo Te é possível: afasta de Mim este cálice. Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca». Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. Voltou novamente e encontrou-os dormindo, porque tinham os olhos pesados e não sabiam que responder. Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes: «Dormi agora e descansai... Chegou a hora: o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos. Vamos. Já se aproxima aquele que Me vai entregar». Ainda Jesus estava a falar, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e os anciãos. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O e levai-O bem seguro». Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo: «Mestre». Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O. Um dos presentes puxou da espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender, como se fosse um salteador. Todos os dias Eu estava no meio de vós, a ensinar no templo, e não Me prendestes! Mas é para se cumprirem as Escrituras». Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos. Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol. Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu. Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro, que O seguira de longe, até ao interior do palácio do sumo sacerdote, estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para Lhe dar a morte, mas não o encontravam. Muitos testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus depoimentos não eram concordes. Levantaram-se então alguns, para proferir contra Ele este falso testemunho: «Ouvimo-l’O dizer: ‘Destruirei este templo feito pelos homens e em três dias construirei outro que não será feito pelos homens’». Mas nem assim o depoimento deles era concorde. Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos e perguntou a Jesus: «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?». Mas Jesus continuava calado e nada respondeu. O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O: «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?». Jesus respondeu: «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso vir sobre as nuvens do céu». O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?». Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte. Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe, a tapar-Lhe o rosto com um véu e a dar-Lhe punhadas, dizendo: «Adivinha». E os guardas davam-Lhe bofetadas. Pedro estava em baixo, no pátio, quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno». Mas ele negou: «Não sei nem entendo o que dizes». Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes: «Este é um deles». Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro: «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu». Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais». E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito: «Antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás». E desatou a chorar. Logo de manhã, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos. Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-O de novo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu: «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?». Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes: «Então que hei-de fazer d’Aquele que chamais o Rei dos judeus?». Eles gritaram de novo: «Crucifica-O!». Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?». Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-O!». Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-n’O com um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-l’O: «Salve, Rei dos judeus!». Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem. Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não o quis beber. Depois crucificaram-n’O. E repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um. Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». Crucificaram com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos». Até os que estavam crucificados com Ele O injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?». Que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse: «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali». Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus». Estavam também ali umas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé, que acompanhavam e serviam Jesus, quando estava na Galileia, e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém. Ao cair da tarde – visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado – José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente à presença de Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. José comprou um lençol, desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol; depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro. Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Jesus tinha sido depositado.

| Na verdade, este homem era Filho de Deus
Um jovem piedoso renunciou a todos os seus bens. E consagrou-se ao serviço de Deus. Foi ao deserto à procura de um sábio ancião que lá vivia há muitos anos e tinha fama de santo. Quando o jovem encontrou o sábio, disse-lhe: «Entreguei todos os meus bens aos pobres. E consagrei-me completamente a Deus. Mas tenho uma dúvida: Será que me vou salvar?». O sábio olhou-o calmamente; e respondeu-lhe: «Não. Não te vais salvar». O jovem ficou triste e confuso, porque não esperava uma resposta tão dura; e insistiu: «Mas eu fui generoso; e quero continuar a ser generoso. Por isso, não entendo porque é que não me vou salvar». Então, o ancião disse-lhe: «Não te vais salvar. A ti é que te vão salvar». Esta constatação é fundamental para a vida do cristão. Talvez tenhamos a mesma atitude do jovem, pensando que a salvação é uma óbvia consequência das nossas (boas) acções. Talvez pensemos que os nossos méritos nos dão o direito de nos sentirmos salvos. Contudo, um dos melhores sinais de que estamos a caminhar para a maturidade da fé é esta consciência: não são as nossas obras que conquistam a salvação; é Deus que, por sua bondade e graça, nos oferece a salvação. Neste longo texto do evangelho segundo Marcos fica claro que Jesus não se sentia dono da salvação. Ele sabe que a salvação é dom de Deus. Os que passam diante da cruz insultam-n’O, abanam a cabeça, e dizem: «Salva-te a ti mesmo e desce da cruz». A mesma atitude tiveram os chefes religiosos, que dizem: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo!». Tinham toda a razão. Eles diziam-no por gozo e escárnio. Mas, afinal, estavam a dizer a verdade. Jesus não Se pode salvar a Si mesmo. Ele sabe-o. Mas também sabe que pode confiar totalmente em Deus (Pai). E entrega-Lhe toda a sua vida. «Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. [...] O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus’». O centurião romano, um pagão, reconhece aquilo que ninguém até àquele momento tinha sido capaz de reconhecer ou de aceitar: Jesus é Filho de Deus. A atitude confiante de Jesus produz naquele homem a afirmação mais profunda da fé cristã: «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

| Alimentar-se da Palavra
Enquanto lês ou escutas o relato da Paixão segundo Marcos, une-te a Jesus e a todos os sofrimentos causados pelas injustiças do mundo de hoje. Como te vais preparar para viver a Semana Santa?