Páscoa:

quinta semana

No dia-a-dia, como permaneces unido a Jesus Cristo?

 | Evangelho segundo João 15, 1-8
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto. Vós já estais limpos, por causa da palavra que vos anunciei. Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós. Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer. Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará. Esses ramos, apanham-nos, lançam-nos ao fogo e eles ardem. Se permanecerdes em Mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e ser-vos-á concedido. A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».

| A glória de meu Pai é que deis muito fruto
«A glória de meu Pai é que deis muito fruto». Esta afirmação de Jesus ajuda-nos a perceber qual é a nossa missão. Cada um tem uma vocação própria. Cada ser humano pode atingir a sua realização pessoal por diferentes caminhos. Mas há uma meta que é comum a todos: dar fruto, dar muito fruto. Essa é a «glória» de Deus, diz Jesus. «A glória de meu Pai é que deis muito fruto». A «glória» não é estar sentado num trono. Receber honras e louvores. Deus não pode ser enriquecido com nada exterior a Ele. A sua glória é a sua essência. Nós sabemos que a essência de Deus é o amor. A sua glória é o seu amor. Por isso, a glória de Deus é que se manifeste o amor de Deus na vida de Jesus e dos seus discípulos. Por outras palavras, a afirmação de Jesus — «a glória de meu Pai é que deis muito fruto» — também pode ser dita desta forma: Deus quer que todos vivamos unidos no amor. «É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amar-nos uns aos outros, como Ele nos mandou» — é o que nos ensina o texto da segunda leitura. De facto, podemos dizer que todo o texto da Primeira Carta de João é uma concretização da passagem do evangelho deste domingo. Jesus fala da comunidade e da missão que lhe é confiada. Através da comparação entre a videira e os ramos, Jesus ensina que a vida de Deus — o seu amor — tem de habitar no coração de cada membro da comunidade. As afirmações de Jesus não podem ser mais claras e directas: «Como o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em Mim. Eu sou a videira, vós sois os ramos». Esta união a Jesus Cristo é vital, fonte de vida. Não é uma questão de dar mais ou menos fruto. É uma questão de vida ou de morte. Como o ramo precisa de estar unido à videira para não secar, também nós precisamos de estar vitalmente unidos a Jesus Cristo. Nos discípulos, em nós, tem de correr a vida de Jesus. «Permanecei em Mim e Eu permanecerei em vós». Este é o mistério pascal do qual Deus nos faz participar plenamente pelo Baptismo. E que renovamos sempre que celebramos a Eucaristia. Na verdade, a Páscoa não é apenas a celebração da ressurreição de Jesus Cristo. A Páscoa é também a celebração da vida nova que chega até nós através da ressurreição de Jesus Cristo. Não apenas no futuro. Mas já. Agora, nesta vida mortal. A relação que se estabelece entre Jesus Cristo e nós, os cristãos, é uma relação pessoal. É uma relação comunicadora de vida. Não é uma relação baseada em conhecimentos racionais. Não é uma relação baseada em princípios morais ou em cumprimento de determinados ritos ou normas. A (única) relação verdadeira entre Jesus Cristo e os cristãos é uma relação entre pessoas vivas. É uma relação vital. O cristão é aquele que deixa que a vida de Jesus Cristo circule dentro de si. O caminho da comunicação desta vida só pode ser um: o caminho do amor. Eis o fruto! No dia-a-dia, como permaneces unido a Jesus Cristo? Jesus Cristo ressuscitado não está apenas no meio de nós, na comunidade reunida. Não está apenas na Palavra e no Pão da Eucaristia. Ele tem de viver em cada um de nós, pela força do Espírito que nos vivifica e nos oferece o amor do Pai. Jesus vive e actua através de nós. Porque em nós circula a vida de Jesus Cristo ressuscitado. Ser cristão é deixar-se habitar pelo Espírito Santo, a presença de Jesus Cristo ressuscitado. E viver mergulhados no amor de Deus. Só assim — e diariamente alimentados pela Palavra de Deus — poderemos ser um povo que produza os seus frutos. No dia-a-dia, como permaneces unido a Jesus Cristo?

| Alimentar-se da Palavra
Sem a videira, os ramos secam e morrem. Mas, quando vivemos de acordo com a Palavra de Deus, produzimos abundantes e bons frutos. No dia-a-dia, como permaneces unido a Jesus Cristo?


Páscoa

segunda semana


Para ti, o que significa acreditar que Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Dus, vivo no meio de nós?

 | Evangelho segundo João, 20, 19-31
Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». Tomé, um dos Doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus. Disseram-lhe os outros discípulos: «Vimos o Senhor». Mas ele respondeu-lhes: «Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão no seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa, e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto». Muitos outros milagres fez Jesus na presença dos seus discípulos, que não estão escritos neste livro. Estes, porém, foram escritos para acreditardes que Jesus é o Messias, o Filho de Deus, e para que, acreditando, tenhais a vida em seu nome.

| Meu Senhor e meu Deus
Tomé está ausente. Jesus manifesta-se aos discípulos, «na tarde daquele dia, o primeiro da semana». Entretanto, quando Tomé regressa à comunidade, os outros dizem-lhe: «Vimos o Senhor». Este «ver» significa a experiência da presença de Jesus Cristo ressuscitado. Afinal, Jesus não é uma recordação do passado. Está vivo. E torna-se presente nos meios dos seus amigos. Tomé escuta-os com cepticismo. Como podem dizer que viram Jesus vivo, se ele morreu crucificado? Talvez seja outra pessoa. Tomé não aceita o testemunho dos seus amigos. Precisa de ser ele a comprovar o que lhe acabam de anunciar. O acontecimento é tão extraordinário que Tomé precisa de o comprovar pessoalmente. Este discípulo, que resiste a acreditar, vai ser o nosso guia no percurso que temos de fazer para termos fé em Jesus Cristo ressuscitado. Tomé representa todos aqueles e aquelas que — como nós — não fizeram parte do primeiro grupo dos discípulos. Nós nem sequer vimos o rosto de Jesus Cristo, nem escutamos as suas palavras, não vimos os seus gestos, não sentimos os seus abraços. Mas seremos (mais) felizes se acreditarmos que Jesus Cristo está vivo! «Oito dias depois», de novo no primeiro dia da semana, Jesus torna-se presente no meio dos discípulos. E dirige-se a Tomé. Não o quer deixar na dúvida. «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos». A ressurreição não anula a condição humana de Jesus Cristo. Não é uma passagem para uma condição superior. A ressurreição leva à plenitude a condição humana. Mas Tomé já não quer comprovar. Não precisa de o fazer. Já não tem necessidade de provas. A presença de Jesus é suficiente para despertar a fé de Tomé. E diz: «Meu Senhor e meu Deus!». Eis o mais profundo acto de fé, pronunciado em todos os evangelhos. A mensagem central deste relato é clara: a experiência pessoal, realizada no seio da comunidade, é fundamental para reconhecer Jesus Cristo, para fortalecer a fé em Jesus Cristo ressuscitado e vivo para sempre, no meio de nós. Todos precisamos de fazer este itinerário: passar do conhecimento teórico sobre Jesus para a experiência pessoal do encontro com ele. Esta mudança será sempre difícil, como o foi com os primeiros discípulos. Mas, sem esta mudança, não entraremos na dinâmica da ressurreição. Dizer que Jesus Cristo está vivo não terá qualquer sentido se eu não deixar que ele vive em mim. Hoje, esta Boa Notícia tem de incarnar na vida de cada homem e de cada mulher, neste tempo e neste lugar onde vivemos. Não temos de nos assustar ao sentir que existem dúvidas e interrogações, na nossa vida. As dúvidas, vividas de forma sadia, salvam-nos de uma fé superficial. As dúvidas ajudam a não nos contentarmos com repetir fórmulas, sem acreditar com confiança e amor. As dúvidas estimulam-nos a ir até ao final na nossa confiança em Deus humanizado em Jesus Cristo. Com Jesus Cristo tudo é possível: libertar-se do medo; recuperar a alegria da fé; abrir as portas; e pôr em marcha a evangelização. Os discípulos sentem o seu alento criador. Tudo começa de novo. «Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Impulsionados pelo seu Espírito, continuarão a colaborar no mesmo projecto salvador que o Pai entregou a Jesus. Esta é a nossa missão: A Igreja anuncia a Palavra de Deus ao mundo.

| Alimentar-se da Palavra
O evangelho, após a confissão de fé de Tomé, convida o leitor — cada um de nós — a acreditar. Para ti, o que significa acreditar que Jesus Cristo é o Messias, o Filho de Deus, vivo no meio de nós?


Páscoa: primeira semana

Como vais ser testemunha da ressurreição de Jesus?

| Evangelho segundo Marcos 16, 1-8
Depois de passar o sábado, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago, e Salomé compraram aromas para irem embalsamar Jesus. E no primeiro dia da semana, partindo muito cedo, chegaram ao sepulcro ao nascer do sol. Diziam umas às outras: «Quem nos irá revolver a pedra da entrada do sepulcro?». Mas, olhando, viram que a pedra já fora revolvida; e era muito grande. Entrando no sepulcro, viram um jovem sentado do lado direito, vestido com uma túnica branca, e ficaram assustadas. Mas ele disse-lhes: «Não vos assusteis. Procurais a Jesus de Nazaré, o Crucificado? Ressuscitou: não está aqui. Vede o lugar onde O tinham depositado. Agora ide dizer aos seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia. Lá O vereis, como vos disse».

| Ressuscitou: não está aqui
Jesus Cristo ressuscitou. Aleluia! Aleluia! A luz nova do Círio Pascal também chega ao nosso coração e nos queima de alegria. Ela ilumina o nosso rosto, para olharmos de uma forma nova tudo o que somos e tudo o que fazemos. Os nossos projectos e os nossos desejos, angústias e esperanças, toda a nossa vida é iluminada pela presença viva de Cristo. Na vida humana faz-se presente a vida de Deus. Em Jesus Cristo Deus humanizou-se. E infundiu em nós a fonte da vida. A terceira etapa do programa pastoral interroga-nos sobre a nossa missão: Qual é a nossa missão? «Eis a fundamental missão da Igreja da qual todas as outras missões eclesiais derivam: anunciar a Palavra de Deus ao mundo. [...] ‘É a própria Palavra que nos impele para os irmãos: é a Palavra que ilumina, purifica, converte; nós somos apenas servidores. Por isso, é necessário descobrir cada vez mais a urgência e a beleza de anunciar a Palavra para a vinda do Reino de Deus, que o próprio Cristo pregou. [...]  Todos nos damos conta de quão necessário é que a luz de Cristo ilumine cada âmbito da humanidade: a família, a escola, a cultura, o trabalho, o tempo livre e os outros sectores da vida social’ [...]» (Programa Pastoral). Temos de ser testemunhas da Ressurreição. E, por isso, onde há desencanto, temos de levar a esperança. Onde há tristeza, levar alegria. Onde há medo, levar fortaleza. Onde há egoísmo, levar solidariedade. Onde há solidão, levar companhia e ternura. Onde há dúvida, levar fé e confiança. Temos de ser pessoas e comunidades abertas e acolhedoras, capazes de contagiar com a nossa alegria de viver e de amar. E seremos profetas, homens e mulheres arautos da nova evangelização. É esta vida nova que nos faz ser aquilo que somos: pessoas novas, renovadas pela acção maravilhosa de Deus; pessoas libertas de todas as escravidões; pessoas abertas ao futuro com esperança, pois Deus espera-nos sempre com amor. Alimentados pela Palavra de Deus, somos enviados em missão: «Agora ide dizer aos seus discípulos». Eis a nossa missão: levar esta Boa Notícia a todas as pessoas. Sê uma Boa Notícia! Também foste escolhido para ser testemunha da Páscoa de Jesus.

| Alimentar-se da Palavra
Ao ler ou escutar os textos que narram a ressurreição de Jesus, alegra-te! Também foste escolhido para ser testemunha da Páscoa de Jesus. Como vais ser testemunha da Ressurreição de Jesus?

Semana Santa

Como te vais preparar para viver a Semana Santa?

| Evangelho segundo Marcos 14, 1 — 15, 47
Faltavam dois dias para a festa da Páscoa e dos Ázimos e os príncipes dos sacerdotes e os escribas procuravam maneira de se apoderarem de Jesus à traição para Lhe darem a morte. Mas diziam: «Durante a festa, não, para que não haja algum tumulto entre o povo». Jesus encontrava-Se em Betânia, em casa de Simão o Leproso, e, estando à mesa, veio uma mulher que trazia um vaso de alabastro com perfume de nardo puro de alto preço. Partiu o vaso de alabastro  e derramou-o sobre a cabeça de Jesus. Alguns indignaram-se e diziam entre si: «Para que foi esse desperdício de perfume? Podia vender-se por mais de duzentos denários e dar o dinheiro aos pobres». E censuravam a mulher com aspereza. Mas Jesus disse: «Deixai-a. Porque estais a importuná-la? Ela fez uma boa acção para comigo. Na verdade, sempre tereis os pobres convosco e, quando quiserdes, podereis fazer-lhes bem; mas a Mim, nem sempre Me tereis. Ela fez o que estava ao seu alcance: ungiu de antemão o meu corpo para a sepultura. Em verdade vos digo: Onde quer que se proclamar o Evangelho, pelo mundo inteiro, dir-se-á também em sua memória o que ela fez». Então, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi ter com os príncipes dos sacerdotes para lhes entregar Jesus. Quando o ouviram, alegraram-se e prometeram dar-lhe dinheiro. E ele procurava uma oportunidade para entregar Jesus. No primeiro dia dos Ázimos, em que se imolava o cordeiro pascal, os discípulos perguntaram a Jesus: «Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?». Jesus enviou dois discípulos e disse-lhes: «Ide à cidade. Virá ao vosso encontro um homem com uma bilha de água. Segui-o e, onde ele entrar, dizei ao dono da casa: ‘O Mestre pergunta: Onde está a sala, em que hei-de comer a Páscoa com os meus discípulos?’. Ele vos mostrará uma grande sala no andar superior, alcatifada e pronta. Preparai-nos lá o que é preciso». Os discípulos partiram e foram à cidade. Encontraram tudo como Jesus lhes tinha dito e prepararam a Páscoa. Ao cair da tarde, chegou Jesus com os Doze. Enquanto estavam à mesa e comiam, Jesus disse: «Em verdade vos digo: Um de vós, que está comigo à mesa, há-de entregar-Me». Eles começaram a entristecer-se e a dizer um após outro: «Serei eu?». Jesus respondeu-lhes: «É um dos Doze, que mete comigo a mão no prato. O Filho do homem vai partir, como está escrito a seu respeito, mas ai daquele por quem o Filho do homem vai ser traído! Teria sido melhor para esse homem não ter nascido». Enquanto comiam, Jesus tomou o pão, recitou a bênção e partiu-o, deu-o aos discípulos e disse: «Tomai: isto é o meu Corpo». Depois tomou um cálice, deu graças e entregou-lho. E todos beberam dele. Disse Jesus: «Este é o meu Sangue, o Sangue da nova aliança, derramado pela multidão dos homens. Em verdade vos digo: Não voltarei a beber do fruto da videira, até ao dia em que beberei do vinho novo no reino de Deus». Cantaram os salmos e saíram para o monte das Oliveiras. Disse-lhes Jesus: «Todos vós Me abandonareis, como está escrito: ‘Ferirei o pastor e dispersar-se-ão as ovelhas’. Mas depois de ressuscitar, irei à vossa frente para a Galileia». Disse-Lhe Pedro: «Embora todos Te abandonem, eu não». Jesus respondeu-lhe: «Em verdade te digo: Hoje, esta mesma noite, antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás». Mas Pedro continuava a insistir: «Ainda que tenha de morrer contigo, não Te negarei». E todos afirmaram o mesmo. Entretanto, chegaram a uma propriedade chamada Getsémani e Jesus disse aos seus discípulos: «Ficai aqui, enquanto Eu vou orar». Tomou consigo Pedro, Tiago e João e começou a sentir pavor e angústia. Disse-lhes então: «A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai». Adiantando-Se um pouco, caiu por terra e orou para que, se fosse possível, se afastasse d’Ele aquela hora. Jesus dizia: «Abá, Pai, tudo Te é possível: afasta de Mim este cálice. Contudo, não se faça o que Eu quero, mas o que Tu queres». Depois, foi ter com os discípulos, encontrou-os a dormir e disse a Pedro: «Simão, estás a dormir? Não pudeste vigiar uma hora? Vigiai e orai, para não entrardes em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca». Afastou-Se de novo e orou, dizendo as mesmas palavras. Voltou novamente e encontrou-os dormindo, porque tinham os olhos pesados e não sabiam que responder. Jesus voltou pela terceira vez e disse-lhes: «Dormi agora e descansai... Chegou a hora: o Filho do homem vai ser entregue às mãos dos pecadores. Levantai-vos. Vamos. Já se aproxima aquele que Me vai entregar». Ainda Jesus estava a falar, quando apareceu Judas, um dos Doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e varapaus, enviada pelos príncipes dos sacerdotes, pelos escribas e os anciãos. O traidor tinha-lhes dado este sinal: «Aquele que eu beijar, é esse mesmo. Prendei-O e levai-O bem seguro». Logo que chegou, aproximou-se de Jesus e beijou-O, dizendo: «Mestre». Então deitaram-Lhe as mãos e prenderam-n’O. Um dos presentes puxou da espada e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha. Jesus tomou a palavra e disse-lhes: «Vós saístes com espadas e varapaus para Me prender, como se fosse um salteador. Todos os dias Eu estava no meio de vós, a ensinar no templo, e não Me prendestes! Mas é para se cumprirem as Escrituras». Então os discípulos deixaram-n’O e fugiram todos. Seguiu-O um jovem, envolto apenas num lençol. Agarraram-no, mas ele, largando o lençol, fugiu nu. Levaram então Jesus à presença do sumo sacerdote, onde se reuniram todos os príncipes dos sacerdotes, os anciãos e os escribas. Pedro, que O seguira de longe, até ao interior do palácio do sumo sacerdote, estava sentado com os guardas, a aquecer-se ao lume. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes e todo o Sinédrio procuravam um testemunho contra Jesus para Lhe dar a morte, mas não o encontravam. Muitos testemunhavam falsamente contra Ele, mas os seus depoimentos não eram concordes. Levantaram-se então alguns, para proferir contra Ele este falso testemunho: «Ouvimo-l’O dizer: ‘Destruirei este templo feito pelos homens e em três dias construirei outro que não será feito pelos homens’». Mas nem assim o depoimento deles era concorde. Então o sumo sacerdote levantou-se no meio de todos e perguntou a Jesus: «Não respondes nada ao que eles depõem contra Ti?». Mas Jesus continuava calado e nada respondeu. O sumo sacerdote voltou a interrogá-l’O: «És Tu o Messias, Filho do Deus Bendito?». Jesus respondeu: «Eu Sou. E vós vereis o Filho do homem sentado à direita do Todo-poderoso vir sobre as nuvens do céu». O sumo sacerdote rasgou as vestes e disse: «Que necessidade temos ainda de testemunhas? Ouvistes a blasfémia. Que vos parece?». Todos sentenciaram que Jesus era réu de morte. Depois, alguns começaram a cuspir-Lhe, a tapar-Lhe o rosto com um véu e a dar-Lhe punhadas, dizendo: «Adivinha». E os guardas davam-Lhe bofetadas. Pedro estava em baixo, no pátio, quando chegou uma das criadas do sumo sacerdote. Ao vê-lo a aquecer-se, olhou-o de frente e disse-lhe: «Tu também estavas com Jesus, o Nazareno». Mas ele negou: «Não sei nem entendo o que dizes». Depois saiu para o vestíbulo e o galo cantou. A criada, vendo-o de novo, começou a dizer aos presentes: «Este é um deles». Mas ele negou segunda vez. Pouco depois, os presentes diziam também a Pedro: «Na verdade, tu és deles, pois também és galileu». Mas ele começou a dizer imprecações e a jurar: «Não conheço esse homem de quem falais». E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro lembrou-se do que Jesus lhe tinha dito: «Antes de o galo cantar duas vezes, três vezes Me negarás». E desatou a chorar. Logo de manhã, os príncipes dos sacerdotes reuniram-se em conselho com os anciãos e os escribas e todo o Sinédrio. Depois de terem manietado Jesus, foram entregá-l’O a Pilatos. Pilatos perguntou-Lhe: «Tu és o Rei dos judeus?». Jesus respondeu: «É como dizes». E os príncipes dos sacerdotes faziam muitas acusações contra Ele. Pilatos interrogou-O de novo: «Não respondes nada? Vê de quantas coisas Te acusam». Mas Jesus nada respondeu, de modo que Pilatos estava admirado. Pela festa da Páscoa, Pilatos costumava soltar-lhes um preso à sua escolha. Havia um, chamado Barrabás, preso com os insurrectos que numa revolta tinham cometido um assassínio. A multidão, subindo, começou a pedir o que era costume conceder-lhes. Pilatos respondeu: «Quereis que vos solte o Rei dos judeus?». Ele sabia que os príncipes dos sacerdotes O tinham entregado por inveja. Entretanto, os príncipes dos sacerdotes incitaram a multidão a pedir que lhes soltasse antes Barrabás. Pilatos, tomando de novo a palavra, perguntou-lhes: «Então que hei-de fazer d’Aquele que chamais o Rei dos judeus?». Eles gritaram de novo: «Crucifica-O!». Pilatos insistiu: «Que mal fez Ele?». Mas eles gritaram ainda mais: «Crucifica-O!». Então Pilatos, querendo contentar a multidão, soltou-lhes Barrabás e, depois de ter mandado açoitar Jesus, entregou-O para ser crucificado. Os soldados levaram-n’O para dentro do palácio, que era o pretório, e convocaram toda a coorte. Revestiram-n’O com um manto de púrpura e puseram-Lhe na cabeça uma coroa de espinhos que haviam tecido. Depois começaram a saudá-l’O: «Salve, Rei dos judeus!». Batiam-Lhe na cabeça com uma cana, cuspiam-Lhe e, dobrando os joelhos, prostravam-se diante d’Ele. Depois de O terem escarnecido, tiraram-Lhe o manto de púrpura e vestiram-Lhe as suas roupas. Em seguida levaram-n’O dali para O crucificarem. Requisitaram, para Lhe levar a cruz, um homem que passava, vindo do campo, Simão de Cirene, pai de Alexandre e Rufo. E levaram Jesus ao lugar do Gólgota, quer dizer, lugar do Calvário. Queriam dar-Lhe vinho misturado com mirra, mas Ele não o quis beber. Depois crucificaram-n’O. E repartiram entre si as suas vestes, tirando-as à sorte, para verem o que levaria cada um. Eram nove horas da manhã quando O crucificaram. O letreiro que indicava a causa da condenação tinha escrito: «Rei dos Judeus». Crucificaram com Ele dois salteadores, um à direita e outro à esquerda. Os que passavam insultavam-n’O e abanavam a cabeça, dizendo: «Tu que destruías o templo e o reedificavas em três dias, salva-Te a Ti mesmo e desce da cruz». Os príncipes dos sacerdotes e os escribas troçavam uns com os outros, dizendo: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo! Esse Messias, o Rei de Israel, desça agora da cruz, para nós vermos e acreditarmos». Até os que estavam crucificados com Ele O injuriavam. Quando chegou o meio-dia, as trevas envolveram toda a terra até às três horas da tarde. E às três horas da tarde, Jesus clamou com voz forte: «Eloí, Eloí, lemá sabactáni?». Que quer dizer: «Meu Deus, meu Deus, porque Me abandonastes?». Alguns dos presentes, ouvindo isto, disseram: «Está a chamar por Elias». Alguém correu a embeber uma esponja em vinagre e, pondo-a na ponta duma cana, deu-Lhe a beber e disse: «Deixa ver se Elias vem tirá-l’O dali». Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus». Estavam também ali umas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé, que acompanhavam e serviam Jesus, quando estava na Galileia, e muitas outras que tinham subido com Ele a Jerusalém. Ao cair da tarde – visto ser a Preparação, isto é, a véspera do sábado – José de Arimateia, ilustre membro do Sinédrio, que também esperava o reino de Deus, foi corajosamente à presença de Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus. Pilatos ficou admirado de Ele já estar morto e, mandando chamar o centurião, perguntou-lhe se Jesus já tinha morrido. Informado pelo centurião, ordenou que o corpo fosse entregue a José. José comprou um lençol, desceu o corpo de Jesus e envolveu-O no lençol; depois depositou-O num sepulcro escavado na rocha e rolou uma pedra para a entrada do sepulcro. Entretanto, Maria Madalena e Maria, mãe de José, observavam onde Jesus tinha sido depositado.

| Na verdade, este homem era Filho de Deus
Um jovem piedoso renunciou a todos os seus bens. E consagrou-se ao serviço de Deus. Foi ao deserto à procura de um sábio ancião que lá vivia há muitos anos e tinha fama de santo. Quando o jovem encontrou o sábio, disse-lhe: «Entreguei todos os meus bens aos pobres. E consagrei-me completamente a Deus. Mas tenho uma dúvida: Será que me vou salvar?». O sábio olhou-o calmamente; e respondeu-lhe: «Não. Não te vais salvar». O jovem ficou triste e confuso, porque não esperava uma resposta tão dura; e insistiu: «Mas eu fui generoso; e quero continuar a ser generoso. Por isso, não entendo porque é que não me vou salvar». Então, o ancião disse-lhe: «Não te vais salvar. A ti é que te vão salvar». Esta constatação é fundamental para a vida do cristão. Talvez tenhamos a mesma atitude do jovem, pensando que a salvação é uma óbvia consequência das nossas (boas) acções. Talvez pensemos que os nossos méritos nos dão o direito de nos sentirmos salvos. Contudo, um dos melhores sinais de que estamos a caminhar para a maturidade da fé é esta consciência: não são as nossas obras que conquistam a salvação; é Deus que, por sua bondade e graça, nos oferece a salvação. Neste longo texto do evangelho segundo Marcos fica claro que Jesus não se sentia dono da salvação. Ele sabe que a salvação é dom de Deus. Os que passam diante da cruz insultam-n’O, abanam a cabeça, e dizem: «Salva-te a ti mesmo e desce da cruz». A mesma atitude tiveram os chefes religiosos, que dizem: «Salvou os outros e não pode salvar-Se a Si mesmo!». Tinham toda a razão. Eles diziam-no por gozo e escárnio. Mas, afinal, estavam a dizer a verdade. Jesus não Se pode salvar a Si mesmo. Ele sabe-o. Mas também sabe que pode confiar totalmente em Deus (Pai). E entrega-Lhe toda a sua vida. «Então Jesus, soltando um grande brado, expirou. [...] O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: ‘Na verdade, este homem era Filho de Deus’». O centurião romano, um pagão, reconhece aquilo que ninguém até àquele momento tinha sido capaz de reconhecer ou de aceitar: Jesus é Filho de Deus. A atitude confiante de Jesus produz naquele homem a afirmação mais profunda da fé cristã: «Na verdade, este homem era Filho de Deus».

| Alimentar-se da Palavra
Enquanto lês ou escutas o relato da Paixão segundo Marcos, une-te a Jesus e a todos os sofrimentos causados pelas injustiças do mundo de hoje. Como te vais preparar para viver a Semana Santa?

Quaresma

quinta semana

Hoje, o que te impede de seguir Jesus?

Evangelho segundo João 12, 20-33
Naquele tempo, alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus». Filipe foi dizê-lo a André; e então André e Filipe foram dizê-lo a Jesus. Jesus respondeu-lhes: «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei-de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome». Veio então do Céu uma voz que dizia: «Já O glorifiquei e tornarei a glorificá-l’O». A multidão que estava presente e ouvira dizia ter sido um trovão. Outros afirmavam: «Foi um Anjo que Lhe falou». Disse Jesus: «Não foi por minha causa que esta voz se fez ouvir; foi por vossa causa. Chegou a hora em que este mundo vai ser julgado. Chegou a hora em que vai ser expulso o príncipe deste mundo. E quando Eu for elevado da terra, atrairei todos a Mim». Falava deste modo, para indicar de que morte ia morrer.

| Se alguém Me quiser servir, que Me siga
A morte e a vida confundem-se no evangelho de João. Para entendermos bem esta linguagem temos de ter muito claro que se fala de dois tipos de morte e dois tipos de vida. Há a Vida com maiúscula que é a meta da vida com minúscula. E também há a morte espiritual que não corresponde com a morte biológica. Esta — a morte biológica — não é imprescindível para alcançar a Vida com maiúscula. Mas a morte ao egoísmo, ao falso eu, é o único caminho para chegar à Vida (com maiúscula). Esta Vida é a presença de Deus em nós. É a vida daqueles e daquelas que se alimentam da Palavra de Deus. Se o grão de trigo morre, germina e faz brotar a vida. Mas se se encerra no seu pequeno invólucro e guarda para si a sua energia, permanece estéril. Esta bela imagem revela-nos uma lei que atravessa misteriosamente a nossa existência. Não é uma lei imposta pela religião. É a dinâmica que torna fecunda a existência de quem vive por amor. Hoje, sabemos que o grão de trigo só morre aparentemente. Desaparece o acidental para dar lugar ao essencial. No grão de trigo há vida. Isto é muito importante para perceber o texto evangélico. A vida não se perde quando se converte em alimento da Vida com maiúscula. A vida biológica encontra o seu verdadeiro sentido, quando se coloca ao serviço da Vida (com maiúscula). Na verdade, a plenitude humana não se pode contentar com a satisfação dos sentidos e dos apetites. A plenitude está no desenvolvimento da capacidade de amar. A meta está na descoberta de que o meu verdadeiro ser existe na medida em que me dou aos outros. A razão da minha existência encontra-se na entrega e no serviço. Esta é a mensagem central de Jesus. A dor causada pela renúncia à satisfação dos apetites é interpretada pelo evangelista como morte. E só através dessa morte se pode aceder à Vida (com maiúscula). É o que Jesus mostra ao dizer: «quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna». A plenitude do ser humano está no amor. Mas se o amor não é total, não podemos alcançar a meta. O amor tem de superar o apego à vida biológica. A mensagem de Jesus não é um desprezo pelo vida. É precisamente o contrário: só quando procuramos o sentido pleno da vida é que descobrimos a meta da nossa existência: a Vida (com maiúscula). Conscientes desta realidade perderemos o medo da morte e nada nem ninguém nos pode escravizar. Então, Jesus diz: «se alguém Me quiser servir, que Me siga». Não se trata de uma servir como escravo, mas como diácono. O diácono é aquele que serve, mas por amor. Jesus convida a segui-l’O no caminho que Ele acaba de traçar: dar a vida. Seguir Jesus é partilhar com Ele a mesma sorte. Seguir Jesus é entrar na lógica do coração de Deus. Seguir Jesus é alimentar-se da Palavra de Deus. Seguir Jesus é deixar-se conduzir pelo Espírito Santo. Este é o grande segredo do mensagem de Jesus: a meta não está na imortalidade física, mas na Vida (com maiúscula). Hoje, o que te impede de seguir Jesus? O amor é invisível. Só o podemos ver nos gestos, nos sinais e na entrega de quem nos quer bem. Quem vive exclusivamente para o seu bem-estar, o seu dinheiro, o seu êxito, a sua segurança, tem uma vida medíocre e estéril: a sua passagem por este mundo não faz a vida mais humana. Quem se arrisca a viver uma atitude aberta e generosa, difunde a vida, irradia alegria, transmite esperança, ajuda a viver. Não há uma forma mais plena do que contribuir para a vida dos outros seja mais humana. Só poderemos seguir Jesus quando nos sentimos atraídos pelo Seu estilo de vida. (Elaborada a partir das reflexões de Fray Marcos e José Antonio Pagola) 

| Alimentar-se da Palavra
No evangelho, perder a vida significa abandonar tudo o que impede de seguir Jesus. Hoje, o que te impede de seguir Jesus? E, liberto dessas barreiras, poderás ajudar outros a «ver» Jesus.

Quaresma

quarta semana

O que tenho de fazer para viver no «mundo da luz»?

Evangelho segundo João 3, 14-21
Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: «Assim como Moisés elevou a serpente no deserto, também o Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele. Quem acredita n’Ele não é condenado, mas quem não acredita já está condenado, porque não acreditou no nome do Filho Unigénito de Deus. E a causa da condenação é esta: a luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque eram más as suas obras. Todo aquele que pratica más acções odeia a luz e não se aproxima dela, para que as suas obras não sejam denunciadas. Mas quem pratica a verdade aproxima-se da luz, para que as suas obras sejam manifestas, pois são feitas em Deus.

| Aquele que acredita tenha n'Ele a vida eterna
Este discurso de Jesus é um convite a não vivermos nas trevas, mas a vivermos no mundo da luz. O texto recorda-nos que a luz que pode iluminar tudo está no Crucificado. «O Filho do homem será elevado, para que todo aquele que acredita tenha n’Ele a vida eterna. Deus amou tanto o mundo que entregou o seu Filho Unigénito, para que todo o homem que acredita n’Ele não pereça, mas tenha a vida eterna». Somos capazes de ver e contemplar o amor de Deus nesse homem torturado na cruz?! Estamos habituados desde criança a ver a cruz por toda a parte. Por isso, talvez não saibamos olhar o rosto do Crucificado com fé e com amor. O nosso olhar distraído não é capaz de descobrir nesse rosto a luz que pode iluminar a nossa vida, nos momentos mais duros e difíceis. Mas Jesus, a partir da cruz, continua a enviar sinais de vida e de amor. Nesses braços estendidos que já não podem abraçar as crianças, nessas mãos cravadas que não podem acariciar os leprosos nem bendizer os doentes, está Deus com os Seus braços abertos para acolher, abraçar e sustentar as nossas pobres vidas, rasgadas por tantos sofrimentos. Nesse rosto apagado pela morte, nesses olhos que já não podem olhar com ternura os pecadores, nessa boca que não pode gritar a Sua indignação pelas vítimas de tantos abusos e injustiças, Deus revela-nos o Seu «amor louco» pela Humanidade. Podemos acolher Deus. Ou podemos rejeita-l’o. Ninguém nos força. Somos nós que temos de decidir. «A luz veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a luz». Por que é que tantas vezes rejeitamos a luz que nos vem do Crucificado? (José Antonio Pagola). Jesus ensina-nos a compreender Deus a partir do amor. Mas um amor que se concretiza na entrega e no serviço. Um amor que é capaz de dar a vida pelos outros. É uma forma de amar levada ao limite. Assim, Jesus mostra-nos como é o amor do Pai por todos nós. «Salvos na Esperança», como diz o Papa Bento XVI na sua segunda Carta Encíclica. Esta é a boa notícia que Deus tem para nos dar através de Jesus Cristo. «Porque Deus não enviou o Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por Ele». O que tenho de fazer para viver no «mundo da luz»? Tenho de ser capaz de ir ao encontro da luz que é Jesus Cristo. Tenho de me deixar iluminar por Ele. Jesus dá-nos a conhecer o amor do Pai, para deixarmos que a sua acção salvadora penetre em todos os âmbitos da nossa vida e da nossa sociedade. Vivendo no mundo da luz, mesmo dominados por uma situação profunda de crise, poderemos gerar confiança. E fazer com que muitos que vivem frustrados e desiludidos possam recuperar a esperança. 

| Alimentar-se da Palavra
Os discípulos de Jesus reconhecem-n’O como a Luz do mundo. E Jesus convida a escolher entre o «mundo das trevas» e o «mundo da luz». O que tenho de fazer para viver no «mundo da luz»?


Quaresma

terceira semana

Hoje, que significado têm estas palavras de Jesus:
«Não façais da casa de meu Pai casa de comércio»?

Evangelho segundo João 2, 13-25
Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém. Encontrou no templo os vendedores de bois, de ovelhas e de pombas e os cambistas sentados às bancas. Fez então um chicote de cordas e expulsou-os a todos do templo, com as ovelhas e os bois; deitou por terra o dinheiro dos cambistas e derrubou-lhes as mesas; e disse aos que vendiam pombas: «Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Os discípulos recordaram-se do que estava escrito: «Devora-me o zelo pela tua casa». Então os judeus tomaram a palavra e perguntaram-Lhe: «Que sinal nos dás de que podes proceder deste modo?». Jesus respondeu-lhes: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Disseram os judeus: «Foram precisos quarenta e seis anos para se construir este templo e Tu vais levantá-lo em três dias?». Jesus, porém, falava do templo do seu corpo. Por isso, quando Ele ressuscitou dos mortos, os discípulos lembraram-se do que tinha dito e acreditaram na Escritura e na palavra de Jesus. Enquanto Jesus permaneceu em Jerusalém pela festa da Páscoa, muitos, ao verem os milagres que fazia, acreditaram no seu nome. Mas Jesus não se fiava deles, porque os conhecia a todos e não precisava de que Lhe dessem informações sobre ninguém: Ele bem sabia o que há no homem.

| Não façais da casa de meu Pai casa de comércio
Jesus vai a Jerusalém para celebrar as festas da Páscoa. Ao aproximar-se do recinto que rodeia o Templo, encontra um espectáculo inesperado. Quando Jesus entra no Templo não encontra pessoas à procura de Deus. O que vê é um comércio religioso. Vendedores de bois, ovelhas e pombas negociando com os peregrinos os animais para os holocaustos em honra de Deus. Cambistas instalados nas suas mesas para cambiar as moedas (pagãs) pela única moeda oficial aceite pelos sacerdotes. Perante este cenário, Jesus enche-se de indignação. O narrador descreve ao pormenor a reacção de Jesus: com um chicote, expulsa do recinto sagrado os animais; vira as mesas dos cambistas deitando por terra as suas moedas; e grita: «Não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Jesus sente-se como um estranho naquele lugar. O que Ele vê não tem qualquer relação com o verdadeiro culto a Deus, Seu Pai. A religião do Templo converteu-se num negócio: os sacerdotes procuram bons ingressos; os peregrinos preocupam-se em fazer negócio com Deus, através das suas oferendas. Com estas atitudes os judeus afastaram-se do verdadeiro culto e do verdadeiro Deus. O Templo não é a casa de um Deus Pai, onde todos são acolhidos como irmãs e irmãos. Há distinção de pessoas: um pátio para os pagãos; um lugar para as mulheres; outro par os homens; e um espaço reservado apenas aos sacerdotes. O Templo de Jerusalém transformou-se num mercado, onde cada um procura fazer o seu negócio: uns com as pessoas; outros com o próprio Deus. Jesus não aceita esta mentalidade religiosa. Deus não pode ser o protector de uma religião tecida de interesses e egoísmos. O verdadeiro culto a Deus só tem sentido associado a um compromisso pela construção de uma comunidade humana mais solidária e fraterna. Sem darmos conta, todos nos podemos converter hoje em «vendedores» e «cambistas»: homens e mulheres que não sabem viver senão procurando o seu próprio interesse. Estamos a converter o mundo num grande mercado onde tudo se compra e se vende. E, marcados por esta lógica mercantilista, corremos o risco de viver também assim a relação com Deus. A atitude de Jesus e as palavras que hoje escutamos no evangelho também se aplicam aos nossos dias. Hoje, que significado têm estas palavras de Jesus: «Não façais da casa de meu Pai casa de comércio»? Temos de fazer da nossa comunidade paroquial um espaço onde todos nos possamos sentir bem nesta «casa do Pai». Uma casa acolhedora. Uma casa de portas abertas para todos. Uma casa onde ninguém fica excluído. Uma casa onde se respira a fraternidade e o serviço. Uma casa onde aprendemos a escutar o sofrimento dos irmãos mais desfavorecidos. Uma casa onde podemos invocar a Deus como Pai, porque nos sentimos Seus filhos; e onde procuramos viver como irmãos. Como reagira, hoje, Jesus se estivesse à porta ou dentro da nossa igreja. Que diria da nossa disposição para rezar? Que diria da nossa participação no canto? Que diria da nossa escuta da Palavra de Deus? Que diria da nossa forma de participação? «Não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Esta advertência de Jesus dirige-se a cada um de nós quando tentamos fazer negócio com Deus. Não queremos comprar Deus quando Lhe fazemos diversas promessas? Por que é que nos sentimos decepcionados e até irritados quando não se concretiza aquilo que Lhe pedimos? Hoje, que significado têm estas palavras de Jesus: «Não façais da casa de meu Pai casa de comércio»? (reflexão elaborada a partir de textos de José Antonio Pagola e Juan Jáuregui).


| Alimentar-se da Palavra
No evangelho, Jesus não aceita o negócio que existia dentro do Templo de Jerusalém. Hoje, que significado têm estas palavras de Jesus: «Não façais da casa de meu Pai casa de comércio»?